CARLOS TIOKAL

Porta-Retrato

O porta-retrato permanece ainda no mesmo lugar.
A sua imagem imóvel num móvel antigo,
Já amarelada pelo tempo.
Num tempo em que te via em cores,
De quando sorriamos para a vida,
E que víamos o tempo passar,
Sem nos preocuparmos com o amanha.
Sem perspectiva que o futuro chegaria tão depressa.
E chegou. mas o tempo não nos sorriu,
E para nós dois, o tempo passou rápido demais.
Você sendo feliz com outro e eu etilicamente me acabando,
Sentado a sua frente, olhando o rosto que um dia beijei.
E hoje jaz inerte numa fotografia em preto e branco.

MINTA PARA MIM

Minta pra mim, diz que me ama.
Que não vive sem mim.
Que sou o único.
Que você nunca vai me esquecer.
Que você pensa em mim todo  dia.
Que você recorda nossos momentos
Que quando você perde o sono,
               gostaria de ficar comigo conversando.
Que você ainda quer fazer amor comigo.
Que quando toca aquela musica você canta
               e na sua mente eu logo apareço.
Que você pega o telefone e não tem
                coragem de discar o meu numero.
Que quando alguém por mim pergunta,
                você diz que me vê sempre
Que seu sonho é ficar comigo
                para o resto de nossas vidas.
Minta pra mim. pode mentir.
Eu vou fingir que acredito em você.
Eu vou fingir que você me ama.
E vou fingir que eu sou o único.
Mas só não vou conseguir fingir
                que consigo esquecer você.

Da coletânea"Passagem para o sonho" Antologia 2014

O trem

O trem ensaiava um apito.
Na verdade, era um lamento.
Triste. Bem triste...
Já se aproximava da estação,
Também, apitar pra quê, se não havia passageiros?
Talvez ele estivesse recordando,
Recordando do tempo em que ele era absoluto
Quando as pessoas acertavam seus relógios
As mocinhas casadoiras esperavam seus amados
Alguém nervoso uma encomenda
Um lenço branco dava um adeus.
E o burburinho à sua volta.
A plataforma lotada e ele já parando imaginava se
Estava trazendo ou se levaria alguém.
As pessoas sempre têm alguém no coração.
Soa a campainha e ele tem que partir.
Será que alguém ficou chorando?
Vai... Passa a cancela e ele nem para.
Ninguém mais o espera
Agora sim, seu apito é agonizante
Não encontra crianças acenando
Ele já é obsoleto, apenas uma curiosidade
E quando ele passa os pais gritam:
Olha filhinho... um trem.

(Antologia 2014 “passagem para o sonho”)

Recordações

A noite já ia alta, sem estrelas e sombria.
Recordávamos nossas mais intimas paixões.
Lembrávamos nomes, lugares ...
Até conversas mais amiúdes.
Quantas pessoas passaram em nossas vidas,
Quantos corpos.
Quantas vezes fizéramos de amigo,
Quantas vidas dentro de nossas vidas.
Algumas eram intocáveis, outras impossíveis.
E a meia luz, escondidos, sempre cedia.
Ilícitos amores fluíam ardentemente.
E já raiando o dia, cansados de tantas lembranças.
Nossos olhos cansados, vencidos pelo sono.
Foram só poeiras de uma vida, que passou incólume.

Eu me rendo

Faça o que quiser de mim nesta noite, eu me dobro.
Me ajoelho a você, cedo.
Faça algo que nunca senti.
Quero sentir seus espasmos involuntários.

Faça o que quiser comigo, eu me envolvo.
Me levanto para você, te domino,
Te dou algo que nunca sentiu.
Sinta meus humores e o suor nos meus poros

Faço o que quiser contigo, eu me rendo
Se ajoelhe, ceda.
Me entregue plenamente, me envolva.
Sintamos toda plenitude do amor.


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